Futuro do tratamento do Lúpus: o que podemos esperar?

beatriz
Por beatriz
8 Leitura mínima

Durante anos, o tratamento do Lúpus ficou restrito ao uso de medicamentos corticosteroides, antimaláricos e imunossupressores, que além dos muitos efeitos colaterais, nem sempre são eficazes para o controle da doença¹

Com a chegada dos medicamentos imunobiológicos, que atuam em alvos específicos do sistema imune envolvido no desenvolvimento do Lúpus, abriu-se a oportunidade de tratar a doença de forma mais inteligente².

“O que há de mais moderno atualmente é o tratamento com vários tipos de medicamentos para que façam um bloqueio de vários caminhos. Têm alguns medicamentos que bloqueiam citocinas específicas de comunicação entre ascélulas, outros que fazem um bloqueio mais amplo.

Mas para as doenças maisgraves, a gente faz um tratamento bloqueando vários alvos ou chamado de multi-target”, explica o reumatologista Rodrigo Luppino.

Esse cenário representa um avanço significativo no tratamento da doença e permitiu uma melhora expressiva na qualidade de vida dos pacientes. Entretanto, infelizmente, nem todos respondem de forma satisfatória às atuais opções terapêuticas. De olho nisso, o que os pacientes podem esperar do futuro do tratamento do Lúpus? Quais as novidades que estão a caminho?

Testes genéticos e car-t cells podem ajudar no tratamento do lúpus O Lúpus eritematoso sistêmico é uma doença inflamatória autoimune, na qual o sistema imunológico ataca órgãos ou tecidos do próprio corpo podendo afetar diversos órgãos como rins, pele e o cérebro³. Como a grande maioria das doenças autoimunes, o Lúpus pode ser desencadeado por fatores genéticos, hormonais, infecciosos e ambientais⁴.
.

Por conta da sua complexidade, cada paciente terá uma apresentação diferente da doença: os sintomas variam de pessoa para pessoa, o que dificulta um diagnóstico rápido e preciso, como também o próprio tratamento.
Hoje, um dos desafios para pesquisadores na área é buscar, cada vez mais, um tratamento personalizado. “Precisamos conseguir identificar melhor as características individuais dos pacientes para fazer uma medicina mais personalizada e de precisão, onde a gente bloqueia a citocina específica culpada ou aquela célula ou grupo de células culpadas no aparecimento da doença”, explica Luppino.

O reumatologista conta que, no tratamento do Lúpus eritematoso sistêmico, ainda não é possível identificar qual é o tipo de célula ou citocina envolvida no curso da doença em cada paciente. Por isso, os testes genéticos poderiam ajudar médicos e pacientes nessa jornada. Descobrindo o subtipo da doença, seria possível escolher medicamentos mais assertivos para cada paciente.

“A relação com testes genéticos para tratar os pacientes com lúpus ainda não é uma realidade para a enorme maioria. Existem pequenos subgrupos que já conseguimos identificar alterações genéticas que predispõem ao lúpus ou que são a causa do lúpus, e isso facilita para fazer um tratamento mais individualizado, mais preciso. Infelizmente, ainda não é uma realidade, mas é algo promissor e que a gente tem a promessa de ter avanços nos próximos anos”, explica o especialista.

Outro tratamento promissor é o das “car-T cells”, que foi recentemente aprovado para tratamento de alguns tipos de câncer⁴. Agora, pesquisadores têm estudado de que forma estas células poderiam ajudar também pacientes com Lúpus⁵. Nesta terapia é realizada a reprogramação da célula para reconhecer e combater a potencial célula culpada no aparecimento de determinada doença. Sendo assim, o próprio organismo do paciente seria capaz de tratar a doença.

“É bastante promissor, assim como para uma pequena parcela de pacientes o transplante autólogo de medula óssea, que faria uma espécie de reinício do sistema imunológico. Mas isso é para um grupo restrito de pacientes, e não é utilizado ainda na prática, já que não temos resultados suficientes para isso”, elucida o reumatologista. Pesquisa clínica em andamento para tratamento do lúpus De olho nisso, o deucravacitinibe, um medicamento via oral para psoríase⁶ , vem sendo estudado pela farmacêutica Bristol Myers Squibb em 33 países. O medicamento atua inibindo uma enzima chamada tirosina quinase 2 (TYK2), o que leva a uma redução na resposta inflamatória presente na psoríase.

Pesquisadores descobriram que a TYK2 também está envolvida nos processos imunológicos que levam ao Lúpus eritematoso sistêmico⁷.

Os resultados das primeiras fases do estudo mostram que o deucravacitinibe mostrou eficácia de 58% contra 34% do grupo placebo no manejo do Lúpus⁸.

Além disso, o medicamento também apresentou baixa taxa de eventos adversos, demonstrando segurança do fármaco⁹.

O Brasil está participando de dois estudos clínicos globais fase 3 em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico. Estes estudos têm como objetivo comprovar a eficácia e a segurança do medicamento nesta indicação. Ao todo, 1100 pacientes serão incluídos, sendo, aproximadamente, 100 pacientes aqui no Brasil. Atualmente, a pesquisa está sendo realizada simultaneamente em 33 países. Podem se candidatar pessoas entre 18 e 75 anos, que tenham lúpus eritematoso sistêmico há mais de 24 semanas e que estejam usando pelo menos uma medicação para tratamento da doença há 12 semanas ou mais¹⁰.

Para se candidatar a participar da pesquisa clínica, basta preencher o formulário neste link Pesquisa Clínica sobre o Deucravacitinibe Survey.

Se o participante se encaixar nos critérios do estudo, receberá contato da equipe com mais informações e os próximos passos.

¹²³ Ministério da Saúde. Lúpus. Disponível em: https://www.qov.brisaude/pt- briassuntos/saude-de-a-a-z/l/lupus Acesso em: 23 jan. 2025.
⁴ American Cancer Society. CAR T-cell Therapy and Its Side Effects. Disponível em: https://www.cancer.orgicancer/managing-cancer/treatment-types/immunotherapy/car t-
cell1.html#:—:text=ln%20CAR°/0201-%2Dcell%20therapies,given°/020back%20to%2 0the%20patient. Acesso em: 23 jan. 2025 aproximent e 100 [Andre
Gomes]- 2 –

⁵ Muller, F.; Taubmann, J.; Bucci, L.; Wilhelm, A.; Bergmann, C.; Volkl, S.; Aigner, M.; Rothe, T.; Minopoulou, I.; Tur, C.; et al. CD19 CAR T-cell therapy in autoimmune disease—A case series with follow-up. N. Engl. J. Med. 2024, 390, 687-700.
⁶Sotyktu. [Bula]. Bristol-Myers Squibb Farmacêutica LTDA. Disponível em: SOTYKTU VP v03 27082021 Paciente.pdf. Acesso em 23 de janeiro de 2025.
⁷⁸⁹Morand, E., et al. Deucravacitinib, a Tyrosine Kinase 2 Inhibitor, in Systemic Lupus Erythematosus: A Phase II, Randomized, Double-Blind, Placebo- Controlled Trial. Arthritis Rheumatol, 2023;75: 242-52. https://doi.orp/10.1002/art.42391
¹⁰ClinicalTrials.gov. A Study to Assess Effectiveness and Safety of Deucravacitinib Compared With Placebo in Participants With Active Systemic Lupus Erythematosus (SLE)(POETYK SLE-1). Disponivel em: httbs://clinicaltrials.gov/studv/NCT05617677?term=POETYK&rank=3 Acesso em 19/03/2025.

ClinicalTrials.gov. A Study to Evaluate Effectiveness and Safety of Deucravacitin (BMS-986165) Compared With Placebo in Participants With Active Systemic Lupus Erythematosus (POETYK SLE-2). Disponivel em: https://clinicaltrials.gov/study/NCT05620407?term=POETYK&rank=2. Acesso em 19/03/2025.

Compartilhe este artigo
Nenhum comentário