De entre todos os doentes asmáticos, 5 a 10% acabam por ser classificados como tendo asma grave. Novas terapêuticas dão esperança a quem sofre desta patologia.
Existem em Portugal 700 mil doentes com asma. Destes, 5 a 10% sofrem de asma grave, patologia que limita a qualidade de vida dos doentes e que tem um maior risco de morte associado. Um doente com asma grave tem dificuldade em fazer tarefas quotidianas, tais como tomar banho ou subir escadas, devido a um cansaço extremo e fadiga, afetando bastante a sua qualidade de vida.
“A asma grave é uma forma de asma mais intensa, vive-se com muitas crises durante o ano, com falta de ar intensa, tosse, chiadeira no peito, os designados gatinhos e fadiga constante. Esta doença prejudica a qualidade do sono, a capacidade de trabalhar e, muitas vezes, a vida social e emocional”, explica Pedro Henriques, de 53 anos, doente de asma grave, e membro da Direção da AAG – Associação de Asma Grave, prosseguindo: “As crises graves também nos podem levar às urgências hospitalares e à dependência de corticoides, cujos efeitos secundários podem ser o aumento de peso e inchaço corporal.”
Medicamentos biológicos melhoram a vida dos doentes
Até recentemente, o tratamento desta doença fez-se com doses elevadas de corticoides inalados e um controlador adicional para evitar o descontrolo da doença. Hoje, já existem novos medicamentos biológicos, pelo que os doentes podem ambicionar ter os sintomas controlados e recuperar a qualidade de vida. “As terapêuticas biológicas constituem uma nova era terapêutica para a asma grave, revolucionando a filosofia dos cuidados a estes doentes. Antes da era dos biológicos, a única arma terapêutica era a cortisona, com múltiplos e graves efeitos secundários. Atualmente, temos acesso a terapêuticas capazes de transformar a vida dos nossos doentes com asma grave”, garante Carlos Lopes, especialista de pneumologia no Serviço de Pneumologia da Unidade Local de Saúde Santa Maria e coordenador da Especialidade de Pneumologia no Hospital CUF Descobertas.
“Os novos medicamentos biológicos são um avanço significativo e revolucionário no tratamento da minha asma grave”, conta Pedro Henriques, responsável da AAG, reforçando as declarações de Carlos Lopes. E prossegue: “Desde outubro de 2020 que faço a terapêutica com medicação biológica. As crises reduziram significativamente e as idas às urgências hospitalares também”, afiança. Pedro Henriques acrescenta que já só usa o inalador “de manhã e antes de deitar”. “Neste momento consigo ter uma vida normal, como qualquer outra pessoa”, assegura.
O sucesso na evolução na gestão destes doentes assenta igualmente na constituição de Unidades Multidisciplinares de Asma Grave, em que há uma integração dos cuidados, com contributo dos diferentes profissionais de saúde e especialidades médicas; cuidados de saúde centrados no doente com asma grave. “Esta abordagem multidisciplinar garante ganhos de eficácia e valor acrescentado em saúde para os doentes com asma grave, com disponibilização de terapêuticas inovadoras e acesso a ensaios clínicos”, garante o especialista de Pneumologia no Serviço de Pneumologia da Unidade Local de Saúde Santa Maria. Estas unidades permitem num curto espaço de tempo “confirmar o diagnóstico e planear terapêuticas eficazes, sempre em conjunto com o doente, de maneira a proporcionar-lhes uma melhor qualidade de vida e diminuindo o risco de ataques de asma”, diz o também coordenador da Especialidade de Pneumologia no Hospital CUF Descobertas.
Mesmo com a eficácia das Unidades Multidisciplinares de Asma Grave e dos tratamentos biológicos, Pedro Henriques aponta a morosidade da primeira consulta, uma vez que “o tempo de espera é de mais ou menos três meses”, e a burocracia. “Apesar de o medicamento estar disponível no SNS, é caro e requer autorização superior”, recorda.
A somar a estes problemas, Pedro Henriques alerta para a importância de os profissionais de saúde não desvalorizarem os sintomas destes doentes, para que a referenciação seja rápida e o diagnóstico o mais precoce possível. “Devia investir-se na formação contínua dos profissionais de saúde, como médicos de família e pneumologistas, para que consigam rapidamente identificar esta doença e encaminhar os doentes para os hospitais. Deveriam ser implementados protocolos com os laboratórios para redução de preços e a previsão da entrega do medicamento biológico ser mais rápida”, afirma. Só desta forma se pode ambicionar a remissão clínica.
A remissão clínica
Explique-se que a remissão clínica é quando os doentes deixam de ter sintomas significativos e não precisam de medicamentos de alívio frequente, mantendo a doença sob controlo, sem crises significativas. Este é um conceito em evolução que surgiu com a revolução das terapêuticas biológicas. “Hoje, o objetivo do tratamento dos doentes com asma grave passa por: ausência de exacerbações, controlo quase absoluto dos sintomas, tolerância zero a terapêuticas com reações adversas como os corticoesteroides sistémicos – cortisona – e preservação da função respiratória.
Para atingir a remissão clínica, é fundamental a adoção de estilos de vida saudáveis, como por exemplo: não fumar, prática de atividade física e prevenir a obesidade. Outro problema crítico, mesmo nos doentes sob terapêutica com biológicos, é a adesão terapêutica. “Deve haver sempre uma decisão partilhada entre a equipa multidisciplinar e o doente com asma grave para se obter o objetivo último que é a remissão clínica: transformador da vida dos doentes com asma grave”, conclui Carlos Lopes.
Sintomas
Os sintomas de asma grave são semelhantes à asma em geral. Todavia, são mais intensos, mais frequentes e limitativos, condicionando muito o absentismo escolar e laboral. São eles:
- . Falta de ar
- . Tosse e pieira
- . Aperto no peito
- . Fadiga constante
Fonte: Correio da Manhã.