Falta de Bosentana preocupa pacientes e especialistas em meio ao aumento das doenças respiratórias

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As doenças respiratórias englobam uma série de condições que afetam os pulmões e as vias aéreas, causando sintomas como tosse, falta de ar (dispnéia), chiado e produção de muco. Dentre as principais estão a asma, a bronquite (aguda e crônica), a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e a fibrose pulmonar. Estas enfermidades variam em causas, gravidade e tratamento, mas todas impactam significativamente a qualidade de vida dos pacientes e representam um importante desafio de saúde pública. 

Entre os medicamentos relacionados às doenças respiratórias, merece destaque o Bosentana, nome comercial frequentemente associado ao fármaco Bosentana, que é um antagonista dos receptores de endotelina, pertencente a uma classe de vasodilatadores específicos para a Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP). Embora não seja um tratamento para as doenças como asma ou DPOC, no panorama das doenças respiratórias, o Bosentana tem sua relevância no contexto de doenças pulmonares graves, cuja falta de fornecimento em alguns estados brasileiros tem preocupado especialistas e associações de pacientes.

A presidente da Associação Brasileira de Apoio à Família com Hipertensão Pulmonar e Doenças Correlatas (ABRAFE), Iara Machado, explicou que entre janeiro e novembro de 2025, a Central do Pulmão da ABRAF recebeu 107 relatos de pacientes de diferentes estados do país sobre a falta de medicamentos. Desse total, 95 registros (88,8%) estavam relacionados à Hipertensão Pulmonar (HP), o que demonstra a magnitude do problema enfrentado por pessoas que convivem com essa condição rara e grave.

“Os relatos vieram de 19 estados brasileiros, com destaque para o Pará (21) e a Bahia (15), que concentraram o maior número de notificações. Também houve registros significativos no Rio Grande do Sul (11), São Paulo (9), Maranhão (7) e Rio de Janeiro (7), entre outros. Essa dispersão geográfica reforça que o desabastecimento não é pontual, mas um problema recorrente que afeta várias regiões do país”, explicou Iara.

Entre os medicamentos mais citados, destacam-se a Ambrisentana, mencionada em 33 relatos; a Bosentana, mencionada em 24 relatos e a Selexipague, mencionada em 3 relatos.

Esses três fármacos fazem parte do tratamento de referência para a Hipertensão Pulmonar e são fornecidos exclusivamente por meio dos programas do Sistema Único de Saúde (SUS). A falta deles compromete diretamente a estabilidade clínica dos pacientes, podendo levar à piora dos sintomas, internações e risco de descompensação grave.

A alta proporção de casos envolvendo a Hipertensão Pulmonar revela uma situação de vulnerabilidade persistente, na qual pacientes dependentes do fornecimento público enfrentam interrupções no tratamento que poderiam ser evitadas com melhor gestão logística e planejamento de aquisição pelos órgãos estaduais e federais de saúde.

No caso do Bosentana, ao bloquear a ação da endotelina (um potente vasoconstritor), promove dilatação dos vasos pulmonares e redução da pressão, melhorando os sintomas e a capacidade de exercício dos pacientes. É considerada terapia de primeira linha para muitos pacientes com HAP, tendo importância terapêutica crucial para prolongar a vida e evitar a evolução da insuficiência cardíaca direita decorrente da doença.

Bosentana: Importância Terapêutica e Desabastecimento

No Brasil, o Bosentana é disponibilizado pelo SUS através do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica, já que se trata de um medicamento de alto custo e indicado para uma doença rara. Porém, nos últimos anos houve registros preocupantes de falta desse medicamento em diversos estados. 

Segundo especialistas da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), na época aguda da pandemia de covid-19, houve meses em que pacientes do Distrito Federal ficaram praticamente o ano inteiro sem acesso à Bosentana, devido a falhas no fornecimento, o que resultou em descompensação clínica, aumento de internações e mesmo alguns óbitos de pacientes que ficaram desassistidos. Esse desabastecimento prolongado em pleno período de pandemia levou associações de pacientes a acionarem o Ministério Público e a Justiça para garantir o fornecimento, ilustrando a gravidade da situação.

Infelizmente, o problema não se restringiu ao Distrito Federal. Em janeiro de 2025, por exemplo, noticiou-se a falta de Bosentana na rede pública da Bahia, onde pacientes dependentes do remédio estavam sem receber regularmente. Na ocasião, apenas um hospital em Salvador possuía o medicamento em estoque, enquanto a farmácia do estado aguardava a entrega de novos lotes. A Secretaria de Saúde (Sesab) esclareceu que a aquisição da Bosentana é realizada pelos estados com repasses federais, e houve atraso por parte do fornecedor contratado; a entrega prevista para dezembro de 2024 só foi efetivada no final de janeiro de 2025, provocando a interrupção temporária no tratamento dos pacientes. 

Esses episódios de desabastecimento evidenciam um desafio sério no acesso a medicamentos vitais: mesmo após a incorporação no SUS, problemas logísticos e administrativos podem deixar pacientes vulneráveis sem terapia. A falta do Bosentana em alguns estados acendeu o alerta em organizações de saúde. A Associação Brasileira de Apoio à Família com Hipertensão Pulmonar (ABRAF), que representa pacientes com HAP, vem denunciando essas falhas e cobrando providências das autoridades. 

Medicamentos Disponíveis e Aprovados no Brasil

O arsenal terapêutico para doenças respiratórias tem se expandido, e atualmente há diversos medicamentos modernos aprovados no Brasil que oferecem esperança de melhor controle e prognóstico para os pacientes. Além do Bosentana, já discutido acima, podemos citar alguns dos principais fármacos disponíveis em cada contexto:

  • Asma: Além dos tradicionais broncodilatadores inalatórios e corticóides, os imunobiológicos representam uma fronteira importante no tratamento da asma grave refratária. Medicamentos como omalizumabe, mepolizumabe, benralizumabe e dupilumabe já são aprovados pela Anvisa e indicados para casos específicos de asma grave alérgica ou eosinofílica, com excelentes resultados na redução de crises. Essas terapias estão disponíveis nos centros de referência via SUS (alto custo) mediante critérios clínicos, e a tendência é ampliar o acesso conforme se demonstre seu benefício de longo prazo aos pacientes.
  • DPOC: Os pacientes contam com uma variedade de combinações de broncodilatadores de longa ação, e recentemente o tratamento triplo em dispositivo único (combinando um corticosteroide inalatório + um LABA + um LAMA) recebeu aprovação. Exemplos incluem a combinação de fluticasona/umeclidínio/vilanterol (dispositivo Ellipta) e budesonida/glicopirrônio/formoterol (p. ex. Breztri Aerosfera), já aprovadas pela Anvisa, algumas delas incorporadas ao SUS em 2024. Essas novas opções facilitam a adesão e demonstraram eficácia superior em reduzir exacerbações da DPOC, representando um avanço no padrão de cuidado. Também no âmbito da DPOC, há pesquisas em andamento sobre uso de medicamentos biológicos (como o dupilumabe) para subgrupos com componente eosinofílico, embora ainda não haja aprovação formal dessa indicação até o momento (uso restrito a protocolos de pesquisa).
  • Fibrose Pulmonar Idiopática e DPI-FP: Conforme mencionado, pirfenidona e nintedanibe são os dois antifibróticos aprovados no Brasil para fibrose pulmonar idiopática. Ambos já têm registro na Anvisa e foram incorporados às diretrizes de tratamento no SUS, com disponibilização em centros especializados em pneumologia. Essas medicações orais têm efeitos colaterais que requerem monitorização (por exemplo, pirfenidona pode causar distúrbios gastrointestinais e fotossensibilidade; nintedanibe pode causar diarréia e elevação de enzimas hepáticas), mas para muitos pacientes são a única forma de retardar a progressão de uma doença de outra forma inexoravelmente progressiva. Além disso, está em estudo no país a introdução de novas moléculas e terapias combinadas para fibroses pulmonares.
  • Hipertensão Arterial Pulmonar: Para a HAP, além da Bosentana (antagonista de endotelina) já destacada, o Brasil dispõe de outras classes de medicamentos vasodilatadores pulmonares. No SUS estão incorporados, por exemplo, a ambrisentana (outro antagonista de endotelina, semelhante à bosentana) e a sildenafila (inibidor da fosfodiesterase-5), ambas usadas para reduzir a pressão nas artérias pulmonares. Também é disponibilizada a iloprosta (análoga de prostaciclina, de uso inalatório) em centros especializados. Outras terapias para HAP aprovadas no país incluem o tadalafil (outro inibidor de PDE-5, similar à sildenafila) e o selexipague (agonista oral do receptor de prostaciclina), este último incorporado recentemente em alguns protocolos estaduais (como no Tocantins) e aguardando ampla disponibilização nacional. Além disso, o medicamento riociguate (estimulador da guanilato ciclase solúvel) tem indicação aprovada para uma forma relacionada, a hipertensão pulmonar tromboembólica crônica (HPTEC), embora não esteja ainda incorporado no SUS. Felizmente, o arsenal terapêutico da HAP vem crescendo, permitindo frequentemente a combinação de diferentes fármacos (por exemplo, associar um antagonista de endotelina + um inibidor de PDE5) para um melhor controle da doença. O Brasil segue atualizando seus protocolos e a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias) tem avaliado periodicamente novas drogas e indicações para HAP, visando alinhá-las às diretrizes internacionais mais recentes.

As doenças respiratórias representam um espectro amplo, desde condições muito prevalentes, como asma e DPOC, até doenças raras e altamente letais, como fibrose pulmonar idiopática e hipertensão pulmonar. O conhecimento sobre essas enfermidades e seus tratamentos têm avançado de forma notável. Hoje dispomos de medicações inovadoras que melhoram o controle dos sintomas, reduzem internações e prolongam a vida de muitos pacientes que antes tinham poucas alternativas. No entanto, junto com os avanços terapêuticos, surgem novos desafios: garantir que esses medicamentos de alta complexidade sejam acessíveis de forma universal e contínua. Problemas de distribuição e desabastecimento, como os ocorridos com a Bosentana em alguns estados, evidenciam a necessidade de uma gestão eficaz e de políticas públicas que assegurem o fornecimento regular dos tratamentos a quem deles necessita.

Para o público que busca informações médicas sérias e acessíveis, é importante frisar algumas mensagens-chave: muitas doenças respiratórias podem ser controladas e até ter sua progressão freada com o tratamento adequado e acompanhamento especializado. A adesão às medicações prescritas (sejam elas “bombinhas” diárias para asma/DPOC ou comprimidos antifibróticos para fibrose pulmonar) é fundamental para o sucesso terapêutico. Igualmente, medidas de suporte como cessar o tabagismo, manter vacinas em dia e participar de programas de reabilitação respiratória podem fazer toda a diferença na evolução dessas doenças.

Mantemos o compromisso de atualizar continuamente essas informações, conforme surgirem novas evidências científicas e decisões das autoridades de saúde, para que você, leitor, tenha acesso a um conteúdo preciso, atualizado e livre de desinformação sobre as doenças respiratórias e seus tratamentos.

Fontes: Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT); Associação de Apoio à Família com Hipertensão Pulmonar (ABRAF); Ministério da Saúde/Conitec; G1 Globo; Biored Brasil; MedlinePlus; entre outras

Cris Cirino


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