Vacina contra herpes-zóster pode ajudar na prevenção de infartos e AVCs, aponta estudo

Priscila Torres
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A cada mil pessoas vacinadas, de um a dois casos de infarto ou AVC podem ser evitados por ano, segundo pesquisa

A vacinação contra o herpes-zóster pode ajudar a reduzir a incidência de problemas cardiovasculares, como infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs), segundo informações iniciais de um estudo que será apresentado durante o congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia de 2025, realizado em Madri, na Espanha, entre hoje, 29, e 1 de setembro.

O estudo, que teve financiamento da farmacêutica GSK, identificou que a vacinação foi associada a uma redução de 18% no risco de infartos e derrames entre pessoas com 18 anos ou mais, e de 16% entre aquelas com 50 anos ou mais. A análise mostra que, para cada mil pessoas vacinadas por ano, é possível evitar de um a dois casos de infarto ou AVC. Os resultados foram percebidos tanto com a vacina recombinante (RZV) quanto com a de vírus vivo atenuado (ZVL).

A pesquisa foi conduzida por meio de uma revisão sistemática global e de uma meta-análise que reuniu dados de 19 estudos localizados em três bases científicas. Entre eles, nove foram incluídos na meta-análise: oito estudos observacionais e um ensaio clínico randomizado que analisou a segurança da vacina.

Herpes-zóster e doenças cardiovasculares

De acordo com Fábio Argenta, membro do Comitê de Qualidade Assistência e Vacinas da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), que não está envolvido no estudo, a ligação entre a infecção por herpes-zóster com o agravamento de problemas cardíacos já era conhecida.

“Quadros bacterianos e virais desencadeiam um processo inflamatório sistêmico. Em pessoas que já têm problemas cardíacos, a camada interna das artérias inflama, fica mais suscetível à formação de coágulos e, caso existam placas de gordura, elas podem se romper nesse processo. Isso pode levar a infartos ou derrames, a depender de quais artérias sejam atingidas — as do coração ou as do cérebro”, explica.

Os mesmos efeitos podem ocorrer em infecções por influenzavírus sincicial respiratório (VSR)pneumonia e covid-19. “Os quadros inflamatórios, seja por herpes-zóster ou outras infecções bacterianas e virais, também podem inflamar diretamente o coração e causar miocardite, que é a inflamação do músculo cardíaco. Então, o herpes-zóster tem uma relação estreita com o coração e o cérebro, e esse risco é mais elevado nos primeiros três meses após a infecção”, detalha Argenta.

De olho nisso, Flávia Bravo, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), que também não participou da pesquisa, destaca que se vacinar não significa se proteger apenas da doença para a qual o imunizante foi desenvolvido, mas também das complicações que podem surgir a partir dessa enfermidade. Segundo a médica, os imunizantes “previnem doenças que vão causar uma inflamação e podem descompensar outros quadros”.

“A associação entre doenças infecciosas e doenças cardiovasculares não é nova. O ponto positivo é que estão surgindo estudos robustos que organizam esse conhecimento e podem quantificar o benefício das vacinas na redução desses eventos”, adiciona.

Argenta ainda ressalta que, neste ano, a Sociedade Europeia de Cardiologia passou a reconhecer a vacinação como um dos quatro pilares para a proteção contra problemas cardiovasculares. “O primeiro é o tratamento da hipertensão; o segundo é o controle de colesterol; o terceiro é o tratamento de diabetes; e o quarto pilar é a vacinação”, detalha.

O que é o herpes-zóster?

De acordo com Flávia, o herpes-zóster, também chamado de cobreiro, é causado pela reativação do vírus varicela-zóster (VZV), o mesmo por trás da catapora. Após a infecção inicial, que ocorre principalmente na infância, o vírus permanece latente no sistema nervoso e pode se reativar mais para frente, provocando o cobreiro em cerca de uma em cada três pessoas ao longo da vida.

A reativação acontece quando há uma queda de imunidade, algo que é comum com o envelhecimento, mas que também pode acontecer devido a fatores como sono insuficiente, má alimentação e estresse. “Acredita-se que 30% das pessoas acima de 50 anos podem desenvolver o quadro. Quanto mais velho, piores são as consequências”, pontua a diretora da Sbim.

Os principais sintomas são manchas e bolhas na pele, que provocam dor e queimação. Também podem ocorrer dor nos nervos, formigamento, sensação de adormecimento e agulhadas, além de ardor, coceira local, febre, dor de cabeça e mal-estar. As regiões do corpo mais atingidas pela doença são tórax, pescoço e costas.

Embora os sintomas geralmente desapareçam com o tempo, a infecção pode deixar sequelas. A mais comum é a neuralgia pós-herpética, caracterizada por dores que podem persistir por três meses após o término do quadro inicial e, em alguns casos, durar anos.

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