Falta de remédio contra epilepsia no SUS preocupam pacientes no Ceará

Em novembro de 2021, o Ministério da Saúde confirmou a falta do medicamento e orientou as secretarias de saúde dos estados a distribuírem o mesmo remédio com uma dosagem menor da que está em falta (de 750mg para 250mg)

Omedicamento levetiracetam de 750 mg está em falta no Sistema Único de Saúde (SUS). Ele é um dos principais remédios para o controle da epilepsia. O desabastecimento do remédio foi confirmado pelo Ministério da Saúde, por meio de ofício enviado às secretarias da saúde, em novembro de 2021. No documento, a pasta propôs a distribuição do mesmo remédio com uma dosagem menor do que a que está em falta, de 750mg para 250mg. A proposta, no entanto, gera indignação entre especialistas e pacientes.

No Ceará, pacientes estão preocupados com a falta do remédio de dosagem maior, pois ele auxilia no controle de convulsões gerados pela doença. A epilepsia é uma doença neurológica em que há perturbação da atividade das células nervosas no cérebro, causando principalmente convulsões. Conforme o documento do Ministério da Saúde, a pasta afirma que “fez-se necessária a busca por estratégias para prevenir eventuais prejuízos aos pacientes”.

O remédio com alta dosagem é distribuído pelo SUS desde de 2020. O POVO procurou algumas farmácias que realizam a distribuição do medicamento no Ceará.

Na Farmácia do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), na manhã desta quarta-feira, 5, foi informado que o medicamento ainda não havia chegado e que não tinha previsão de reabastecimento no local. No Interior, na cidade de Limoeiro do Norte, a 202 quilômetros de Fortaleza, o medicamento também estava em falta na farmácia do Hospital Regional Dr. Deoclécio Lima Verde.

Segundo a policial penal Gislene Bernardino de Freitas, 37, que foi diagnosticada com epilepsia em abril de 2016 e vem realizando o tratamento desde então, a falta do remédio e a substituição da dosagem prejudica o tratamento contra a doença. Ela informa que desde setembro não recebe o medicamento de 750mg pelo SUS. “A maior preocupação na substituição dele é não fazer o mesmo efeito do que o de 750 mg. Eu tenho medo de usar os três de 250 mg e de repente não fazer o efeito que só um de 750 mg faz”, disse.

Além disso, a policial ressalta que com a substituição da dosagem do remédio, ela terá que tomar mais comprimidos durante o dia. No seu tratamento, ela explica que faz o uso de três comprimidos de levetiracetam de 250 mg pela manhã e um de 750 mg à noite. Com a falta do remédio de alta dosagem, ela passará a fazer o uso de três comprimidos também durante à noite. O receio dela é porque são mais comprimidos a serem ingeridos e um controle maior do medicamento.

De acordo com a médica neurologista Mariana Krueger, a substituição com a mesma dosagem equivalente, ou seja, tomando o triplo de comprimidos, pode dificultar a adesão do medicamento. Além disso, ela destaca que nem todos os pacientes têm consulta de imediato com um médico, o que pode agravar o quadro, “havendo crises epilépticas e necessidade de internação hospitalar ou ainda estado de mal epiléptico”. “O estado de mal epiléptico pode requerer UTI ou inclusive ocasionar sequelas neurológicas, ou ainda levar à morte”, frisa.

Ainda segundo a especialista, a simples redução da medicação, sem ajuste com a dose equivalente, pode ter os mesmos agravos da falta da medicação, sendo totalmente contra-indicada. “Usualmente pacientes com levetiracetam são pacientes com epilepsia refratária, ou seja, requerem mais de duas medicações anticrise, sendo portanto ainda mais prejudicial essa proposta [do Ministério da Saúde]”, explicou Mariana.

Conforme a embaixadora da Associação Brasileira de Epilepsia (Abe) do Ceará, Jéssica Lima, que também faz tratamento contra epilepsia, é inaceitável o desabastecimento do remédio que está sendo disponibilizado há pouco tempo. “Era para eles [Ministério da Saúde] terem se programado. É inaceitável essa proposta do Ministério também. Você sair de uma dosagem maior para uma menor, passando a tomar três comprimidos ao invés de um. Isso terá um efeito bem prejudicial”, aponta.

A embaixadora informa que, desde novembro, a Abe Ceará vem recebendo inúmeras denúncias sobre o desabastecimento do medicamento no Estado. Com o cenário, a Associação iniciou uma mobilização pelas redes sociais com a hashtag #SOSEpilepsia. “O objetivo é que tenha visibilidade para o reabastecimento do medicamento. São pessoas que precisam desse medicamento, e se elas não tomarem daqui a pouco as altas de visitas nas emergências serão constantes”, destaca.

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Em nota enviada ao O POVO na quarta-feira, 5/12, o Ministério da Saúde informou que “o processo para aquisição do medicamento levetiracetam está em andamento. A distribuição do medicamento aos estados está prevista para o primeiro trimestre de 2022”. A pasta não detalhou sobre o motivo do desabastecimento do medicamento pelo SUS nos estados brasileiros.

Procurada, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) respondeu com nota técnica aos serviços de saúde sobre a adequação da dose e apresentação do medicamento levetiracetam.

Fonte: O Povo.

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